
Um casal que mostrou que as boas ideias estão por todos os lugares e podem ser concebidas por quem acredita nelas.
Foi enquanto eu arrumava a minha mala para ficar uma semana no Rio Grande do Sul que recebi uma mensagem da Adriana Bender me convidando para conhecer um pouco mais sobre o trabalho da Insect Protein. Com estande no Gramado Summit, maior evento de inovação da América Latina, uma empresa que usa um bichinho com nome engraçado para uma finalidade muito interessante me ensinou que boas ideias não têm lugar ou momento certo para surgirem.
Prazer, Tenebrio Molitor!
Antes de contar sobre meu bate-papo com a Adriana, peço licença para introduzir o protagonista dessa história: o Tenebrio Molitor, um inseto conhecido popularmente como bicho-da-farinha ou larva-da-farinha. Trata-se da fase larval de um besouro de hábitos noturnos, que vive em ambientes secos e com temperatura entre 26°C e 32°C.
Além de ser visto como um morador inconveniente de farinhas, fora do Brasil é conhecido por ser usado em:
Alimentação animal: suas larvas são muito ricas em proteína e com baixíssimo potencial alergênico, podendo ser oferecidas vivas, desidratadas ou transformadas em farinha, compondo rações e suplementos para animais.
Pesquisa científica: as larvas são utilizadas como modelo experimental em estudos de toxicidade, inflamação, cicatrização e efeito de medicamentos, por serem fáceis de criar e manipuláveis em laboratório.
Agricultura: O resíduo da criação das larvas pode ser incorporado ao solo, promovendo o crescimento de plantas e auxiliando no controle biológico de pragas e doenças em culturas agrícolas, sem causar toxicidade às plantas.
Na Europa, além dos usos já citados, há aprovação regulatória para o consumo humano, sendo ingrediente alimentar usado em produtos como pães, massas e barras proteícas. A ONU aponta como possível alternativa o uso de proteína de insetos para combater a fome, principalmente em países subdesenvolvidos, demonstrando que sua produção é um mercado com grande potencial de expansão.
No Brasil, o mercado é ainda mais novo, pouco conhecido e não regulamentado para alimentação humana. Porém, um casal de empreendedores gaúchos estão mostrando que é possível virar o jogo e fazer o Tenebrio Molitor ser conhecido como ele merece.
Algumas empresas nascem na garagem, outras no sofá de casa
Buscando uma ideia para empreender, Mauro e Adriana encontraram no Globo Rural a inspiração. Uma reportagem sobre a produção de proteína a partir de larvas de inseto acendeu a curiosidade do casal. Fascinados pela possibilidade de transformar o Tenebrio Molitor em uma fonte de proteína sustentável em larga escala, eles mergulharam de cabeça em uma jornada intensa.
Essa jornada envolveu muita pesquisa de mercado e um profundo aprendizado sobre o Tenebrio: desde sua criação e abate sustentável até a produção de proteína e fertilizante, utilizando, respectivamente, suas larvas e excrementos. O resultado desse empenho foram produtos com alto teor proteico, sem conservantes e hipoalergênicos. Tudo isso proveniente de um processo totalmente sustentável, onde vegetais descartados alimentam os insetos e farelo de trigo serve de ambiente para sua criação.
A jornada de Adriana e Mauro com o Tenebrio Molitor logo se expandiu para além da dupla inicial. Para dominar todas as etapas da produção — da criação do besouro à formulação dos produtos —, eles trouxeram um novo sócio, Lucas, zootecnista com mestrado em Nutrição Animal e doutorando em Técnicas Ambientais. A Insect Protein também conta com o apoio de Luciano, engenheiro e investidor-anjo, além de parcerias estratégicas com instituições como Finep e SEBRAE, que impulsionam o crescimento da startup.
Outra parceria estratégica firmada foi com a Cãomida Dogs, empresa com foco em alimentação natural para cachorros, para o desenvolvimento do biscoito PetCrunch Dogs. Rico em ômega-3 e ômega-6, é feito com biomassa de insetos da Insect Protein, sendo uma proteína completa, sustentável e hipoalergênica.
Localizada na Feevale Techpark desde 2023, no município de Campo Bom-RS, a startup sonha em aumentar sua produção, que hoje é totalmente manual, mantendo o conceito de economia circular e atuando no desenvolvimento de novos produtos.
A natureza não precisa sofrer para que a sociedade cresça
Conhecer a Adriana no Gramado Summit reacendeu minha paixão por aprender e a crença de que boas ideias não estão restritas à um seleto grupo de mentes brilhantes. Com seu conhecimento profundo sobre cada etapa da criação do nosso amigo Tenebrio Molitor, ela me encorajou a provar o Pet Crunch, quebrando qualquer preconceito sobre alimentos à base de proteína de insetos.
Embora a Insect Protein seja composta por homens e mulheres, a energia da Adriana se destaca, demonstrando resiliência e reforçando a visão de que podemos prosperar enquanto cuidamos do ecossistema. É possível encontrar na natureza soluções inovadoras para problemas reais, agindo com coragem, criatividade e propósito, sem deixar de respeitá-la e zelar por ela. Mesmo sem experiência prévia na criação de larvas ou transformação de proteína, Adriana e Mauro acreditaram na ideia e a tiraram do papel, dando vida ao conceito de Friedrich Nietzsche, popularizado por Viktor Frankl: “Quem tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como.”
Conheça mais sobre a startup Insect Protein pelo Site da Insect Protein ou pelo perfil no Instagram.
Fonte: Café no Metaverso / Aline Perilli
Publicação original:
Insect Protein, nutrição animal sustentável